É de uma relevância a maneira como escutais. Em geral, ou ouvis só palavras, concordando ou discordando, intelectualmente , ou ouvis com a mente ocupada em interpretar, traduzindo desse modo o que ouvis em conformidade com vossos preconceitos pessoais . Escutais comparando o que ouvis com o que já sabeis. Essa maneira de ouvir impede-vos o escutar. Mas se, ao contrário, escutardes sem condenar nem aceitar, com certo grau de atenção, assim como escutais o murmúrio do vento entre as folhas, se escutardes com todo o vosso ser, vosso coração e vossa mente, então talvez possamos estabelecer entre nós um estado de comunicação. Teremos então a possibilidade de entender-nos mutuamente, de maneira muito simples e direta.
Em geral nós escutamos de maneira casual, ouvindo apenas o que desejamos ouvir, não damos atenção ao que é penetrante ou perturbador e prestamos ouvido unicamente às coisas que nos são agradáveis, que satisfazem. É uma verdadeira arte o escutar sem preconceito, sem defesas, pôr de parte todos os nossos conhecimentos adquiridos, nossas idiossincrasias e pontos de vista, com intuito de descobrir a verdade contida em cada questão. Por que não satisfaz a vida ?
Em regra, escutamos porque desejamos que nos digam o que devemos fazer, ou a fim de nos ajustarmos a dado padrão, ou, ainda, escutamos com o simples intuito de colher mais conhecimentos. Se aqui estamos com tal atitude, nesse caso o “processo” de escutar terá pouco valor.
Não sabemos escutar para descobrir o que é; queremos impingir a outro as nossas ideias e opiniões, forçar o outro no molde do nosso pensamento.Nossos pensamentos e juízos são muito mais importantes, para nós, do que o descobrimento do que é. Para escutar, devemos estar livres. Devemos estar livres para ficarmos silenciosos, porque só então há possibilidade de escutar.
Pode-se dizer que, em geral, não escutamos; ouvimos uma grande quantidade de palavras, interpretando o que ouvimos com nossas opiniões, rejeitando ou aceitando. Mas, por “escutar” eu entendo: escutar realmente, sem tradução, sem interpretação, sem opinião; escutar sem espírito de condenação --o que não significa necessariamente “aceitação”. Ao contrário, fazemo-lo, com efeito, com um sentimento de afeição e amor; por que, sem atenção e interesse não é possível escutar coisa alguma.
Ora, pode-se ouvir de diferentes maneiras. Podemos ouvir, procurando interpretar o que o outro está dizendo, ou comparando o que se está dizendo com o que já sabemos. Podeis ouvir com todas as reações de vossa memória ativa. Mas só há uma única maneira de escutar realmente, que é escutar sem “tagarelice” de nosso próprio pensamento.
Não sei se já experimentaste escutar simplesmente uma coisa agradável ou desagradável, sem “projetardes” o vosso próprio processo de pensar. Assim, talvez possais escutar simplesmente, sem concordar nem discordar do que se diz, sem “projetar” vossas próprias idéias ou interpretações –mas sem que com isso estejais sendo hipnotizados. Pelo contrário, o escutar exige atenção completa.
Mas atenção não é concentração. Concentrar-se é enfocar, excluir, e nessa exclusão cria uma barreira ao escutar. Quando escutais com naturalidade e calma, sem exclusão, estais escutando tudo, não apenas as palavras, estais também cônscios de vossas próprias e interiores reações. As palavras são então o meio de abrir a porta através da qual podeis olhar a vós mesmos.
Não sei se alguma vez observastes - quando estais a ouvir alguém que conheceis há muitos anos, com quem tendes certa familiaridade – o pouco que escutais. Já sabeis o que a pessoa vai dizer. Já tende opinião formada, certas conclusões, imagens, que impedem o verdadeiro escutar.
Penso que, se soubéssemos escutar também tudo o que vos cerca na vida diária; todos os barulhos, o interessante tagarelar de vosso amigo, esposa ou marido, as murmurações de vossa mente, o monólogo que ela entretém continuamente, sem condenar nem justificar, esse escutar traria uma ação diferente da ação do pensamento calculista e disciplinado.
Vede, por favor, que vós e eu estamos aprendendo juntos; e para aprender, é necessário escutar. Escutar é aprender. Escutar é ação. Se vós e eu soubéssemos escutar os sucessos humanos, tudo o que está ocorrendo no mundo, as filosofias, os dogmatismos, a televisão - se tudo soubermos escutar, então o próprio ato de escutar se tronará ação; e nisso consiste, a meu ver a arte de escutar.
Não é importante descobrir a maneira de escutar? Parece que, em geral não escutamos coisa alguma. Escutamos por detrás de várias cortinas de preconceitos, examinando o que diz como hinduísta, muçulmano, cristão, com uma opinião já formada. Não ouvimos livremente, calmamente e em silêncio. Ouvimos com a intenção de concordar ou discordar, ou predispostos à argumentação; não ouvimos com o propósito de descobrir. A mim me parece importantíssimo saber ouvir, ler, ver, observar. Que Estamos Buscando?
Temos tantos preconceitos, conclusões e opiniões, temos conhecimentos acerca de tantos assuntos, os quais obviamente impedem a percepção. Quero saber o que você está falando a respeito. Devo escutar, e escutar implica que não deve haver interpretação, mas que devo realmente escutar. Isso implica que, enquanto eu estiver escutando, não deve haver comparação com aquilo que anteriormente aprendi, porque você pode estar dizendo alguma coisa inteiramente diferente.
Então, eu devo ter capacidade e a arte de escutar, senão eu não posso entender o que você está falando sobre o assunto. Da mesma forma, deve-se observar claramente o que está ocorrendo externa e internamente, sem nenhuma imagem; é isso possível? Significa observar realmente, sem condicionamento, não como um cristão, um comunista, um hippie, um quadrado e tudo o mais; escutar tão completamente que possa ver sem distorção alguma. É possível isso?
Se escutastes tudo isso realmente, vereis que vem um despertar e, observareis então que vossa mente é purificada pelo extraordinário milagre que se opera quando escutamos uma coisa que é fato. Escutando o fato, sem resistência, tereis uma mente nova, não mais enredada nas conclusões do passado, sem temor. Estando só, essa mente é eterna, é real, porque a verdade está só, a cada momento. Só a mente que está só, purificada, sozinha, pode ver a verdade!
Posso garantir-vos que temos possibilidade de livrar-nos da velha “fita”, da velha maneira de pensar, de sentir, de reagir, dos inúmeros hábitos que adquirimos. Isso é possível que quando se presta realmente atenção. Se a coisa que estamos escutando é, para nós, verdadeiramente séria, então haveremos de escutar de tal maneira que o próprio ato de escutar apagará tudo o que é velho. Experimente isso!
Senhores, quando falo de influência, refiro-me a todas as qualidades de influência, e não a uma determinada influência. Ao escutarmos, temos de estar intensamente cônscios, para não nos deixarmos influenciar, nem conduzir. Mas, se puderdes escutar um fato sem resistência, seja uma coisa dita por vossa mulher, filho, por um carregador, seja deste orador, descobrireis então por vós mesmos que podeis ultrapassar toda influência, que podeis livrar-vos completamente dessa destrutiva influência da sociedade.
Nessas condições, poderia uma pessoa escutar sem nenhum preconceito, nenhuma conclusão, sem interpretações? Porque, é bastante evidente, nosso pensar é condicionado. Estamos condicionados como hinduístas, comunistas ou cristãos, e tudo o que escutamos, seja novo, seja velho, é sempre apreendido através da cortina desse condicionamento; por conseguinte nunca conseguimos chegar-nos a um problema com a mente nova. Por essa razão, torna-se importantíssimo saber escutar. É bem clara a necessidade de revolução total no indivíduo; vós escutais de dentro da vossa experiência: tendes conclusões, passastes por experiências inumeráveis, provações, sofrimento, aflições, e é com este fundo que estais escutando; estais escutando com uma conclusão. Isso é escutar? Se escuto o que dizeis, que talvez seja novo, diferente, com a mente já entrincheirada em certa ideologia, experiência, num conhecimento específico, pode a minha mente escutar? Há, pois, uma arte de escutar, e eu acho essa arte muito importante!
A mente condicionada não pode escutar, não é livre para escutar. Mas se fordes capazes de escutar de maneira total, creio que se verificará então uma revolução fundamental, não produzida por nenhuma ação do “eu”, a qual, por conseguinte, será uma verdadeira transformação.
Quando escutais uma canção, de que maneira escutais? Acompanhais a significação das palavras, escutais as notas e o silêncio entre as notas, não há então o censor, nem o juiz, nem o avaliador; e quando a mente se aquieta assim, por si mesma, espontaneamente, descobris então o que significa estar alegre.
Ora, quando escutamos - e isso é uma verdadeira arte – é necessária certa tranquilidade do intelecto. Como acontece com a maioria de nós, o intelecto está incessantemente ativo, sempre a reagir ao desafio de uma palavra, ideia ou imagem; e esse constante processo de reação e desafio não produz compreensão.
Escutar se posso dizê-lo, não é processo de concordar, condenar, interpretar, mas, sim, de olhar cada fato totalmente, globalmente. Para isso, o intelecto deve estar quieto, porém muito vivo, capaz de seguir (o que se diz) correta e racionalmente, não sentimental ou emocionalmente. Só então é possível considerar os problemas da existência humana como um processo total, e não fragmentariamente.
Quero saber por quê. Você alguma vez escutou? Ou você escuta parcialmente? Há duas coisas envolvidas. Há o ouvir e o escutar. Quando você ouve, concorda ou discorda, e diz: “eu concordo com ele, gosto ou não gosto, ele é convincente ou não é convincente”. Mas, quando você está realmente escutando – isto é, dando sua completa atenção – o que acontece? O que ocorre, sendo a atenção sua mente, coração, nervos, corpo, tudo escutando? Sua mente está completamente quieta?
Não arguindo, concordando, discordando, opondo ou formando nenhuma opinião. É um ato de completo escutar. Nesse ato de escutar há comunhão real, não há? Comunhão no sentido de completo relacionamento. Não há desentendimento. Nunca damos nossa total atenção a coisa alguma. Mas apenas aprendemos o que é se concentrar. Concentração significa exclusão. Por conseguinte, concentração não é atenção. Na atenção não há fronteiras.
Não sei se alguma vez examinastes a maneira como escutais. Quando tentamos escutar, estamos sempre a projetar nossas opiniões e idéias, preconceitos, nosso fundo, inclinações, impulsos. Só se pode escutar quando nós achamos num estado de atenção, silêncio, em que todo aquele fundo está em suspenso, quieto; então há possibilidade de comunicação.
Há várias coisas a considerar. Se escutais com o fundo ou com a imagem que formastes do orador, se o escutais atribuindo-lhe certa autoridade, então é bem evidente que não estais escutando. Estais escutando a “projeção” que à vossa frente colocastes, e esta vos impede de escutar. Assim, é impossível a comunicação!
Nessas condições, se sabeis escutar, quando compreendemos o condicionamento da nossa mente – então a compreensão mesma do nosso condicionamento libera a mente. Percebei claramente que sois um hinduísta. Assim sendo, só é possível escutar e estudar o problema de maneira correta quando a mente é capaz de operar sem estar ancorada em algum fundo de conhecimento ou experiência --background.
A mente, pois, tem de estar livre, fantasticamente livre, dos interesses de “eu” e das âncoras do conhecimento, para que possa observar o problema e, desse modo produzir uma revolução total.
Nessas condições, pois, se pudermos discutir serenamente, sem nos bombardearmos mutuamente com ideais, examinando cada problema meticulosamente, com sensatez, inteligência, vereis que sem necessidade de esforço ocorrerá a revolução.
Talvez tenhais escutado. Se souberdes escutar tranquilamente, sem esforço, sem interpretação, o que se está dizendo, e bem assim, tudo o que vos circunda, verificareis que estais escutando não só o que está muito perto de vós, mas também coisas que estão muito longe – aquilo que não tem medida, nem espaço, que não está aprisionado em palavras nem no tempo. Quando a mente se acha de fato tranquila, por estar toda enlevada pela canção do seu próprio escutar, só então desponta na existência o imensurável, o eterno.
Tendes de escutar com a totalidade do vosso ser, sem esforço algum, sem luta, e com a intenção de compreender, de explorar, de descobrir, de achar realmente a Verdade ou a Falsidade, a meu ver, tal ato escutar é meditação.
Só podeis escutar quando vossa mente está quieta, quando não “reage” imediatamente, quando há um intervalo, há quietude, silêncio. Só nesse silêncio há a compreensão que não é compreensão intelectual. Esse intervalo é o cérebro novo. A reação imediata é o cérebro velho.
Autor: Desconhecido