quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ser ecologista

Já foi o tempo que ser ecologista era ser taxado de diferente, de estranho. No começo do desenvolvimento do PV no Brasil, Sirks e Gabeira eram vistos como estranhos, ou diria agora, gênios. A política nacional ainda intoxicada e sem esperança de sair do trauma da ditadura e ciclo vicioso de uma direita medonha e populista, começa a enxergar a luz no horizonte e deposita no PT a esperança já tão maltratada pelo tempo.

A agenda vem mudando de figura depois de então, desmatamento acelerado, escassez de recursos hídricos, falta de energia e inúmeros acidentes naturais depois, o homem standard mundial começa a “querer parar” pra pensar no amanhã. Hoje em dia tudo que é estranho a um desenvolvimento sustentável é taxado de diferente. Já vimos que se esse ritmo de consumo material e de crédito desenfreado continuar, ficará ainda mais difícil de recuperar, ou diria impossível. A bolha imobiliária nos EUA e a crise na Grécia são apenas indícios de que o sistema atual está falido, ou na verdade beneficia poucos.

A força integradora da América do Sul nada mais é do que a Amazônia, o que realmente é o ponto comum entre quase todos nós. Ser pró Amazônia é ser inteligente e estratégico. O compromisso comum é de preservá-la e desenvolve-la. Assim também é o compromisso do Brasileiro, de incentivar e promover a biodiversidade, não só no campo material, mas também no campo de ideias, sustentáveis e de iniciativas concretamente verdes, pró libertação do sistema.

A consciência humana está sofrendo uma virada de rumo que não se via desde que foi inventado o fogo. Temos que parar de consumir tanto e redesenhar nossa linha de montagem. Isso significa ser menos teimoso e mais inteligente. Uma vez que sabemos o que é certo fica difícil fazer o errado, mesmo que signifique cortar a própria carne. E o ser humano se vê literalmente nesse paradigma, se desfazendo do que um dia lhe serviu e vestindo uma nova roupagem, que lhe servirá para os anos por vir. É preciso mudar. Essa palavra tão difícil hoje em dia, parece um palavrão entre os egos inchados.

A Terra não vai acabar, mas as mudanças climáticas ou espirituais, não irão deixar de escolher as nações a serem afetadas. É preciso encarar essa nova fase como muito mais que material. A questão é pura e simplesmente filosófica, ter menos para que outrem possa ter -- não digo nem mais, apenas ter. Pensar no outro é pensar em si, “ajudar o outro é ajudar a si mesmo”. Essa frase nunca teve tanto sentido num mundo sistemicamente integrado onde governos e bancos se equilibram entre o dever de ajudar e o autoflagelo. Tudo as custas do contribuinte que paga a conta sem nem ter consciência disso.

Consciência é ter uma visão clara do tempo em que vivemos. Aquém do que podemos pensar sobre a verdade, que é sempre construída pelo tempo. A consciência luta constantemente contra o ego, que é envaidecido pelo tempo. Esse tempo...esses dois, consciência e ego, coabitam o mesmo lugar, em nossa mente, mas sempre um deve prevalecer e o ego é quem se faz cortez, para sofrimento e loucura geral.
Cortesia e ecologia. Ser ecologista deixou de ser taxado como vagabundo, maconheiro ou bicho solto. Olha lá aquele cara, --tá viajando, deve ser ecologista, na certa. Mas esse bicho, graças aos gênios, tiveram cria, e mais crias. E a consciência se fez ouvida. Na verdade, a consciência e espiritualidade de uma pessoa são muito mais densas que um mero comentário pode explicar. Extremamente contraditório e intenso que um pincel não pode deslizar ou poesia pode recitar.

A história de Marina Silva faz parte dessa ala tão ignorada pela direita populista quanto pelo PT governo –bem diferente do PT oposição. Como a mensagem que é passada ao resto do mundo, essa jovem democracia, passou por vários testes, beijou a morte e trilha hoje o caminho da vitória. Uma ideologia de transição lapidada pelo esforço de uma seringueira, estratégica, capaz da integração da Amazônia como aliado do Brasil e base argumentativa da soberania da América do Sul.

Ser ecologista é começar a entender que estamos sobre o mesmo teto, que não existem barreiras para o vento nem para as águas, que o morro que desaba aqui produz a mesma matemática na China. Ser ecologista é ser altruísta, benevolente, depois de valente, é estar perto, em todos os lugares, é estar junto, só por que na verdade estamos. Então, por que nossos corações ainda estão tão longe?

O tempo de ser ecologista chegou e não há nada mais forte que uma ideia cujo tempo chegou.

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